Entrevista com Jaime Verruck – Secretário do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul
Qual a relevância que o segmento de florestas plantadas e a produção de madeira de eucalipto tem para o estado de Mato Grosso do Sul?
Nós temos um processo histórico de eucalipto no Estado e, hoje, a referência que o Mato Grosso do Sul tem no Brasil e no mundo é extremamente relevante.
No nosso Estado, a produção de madeira, principalmente eucalipto, cria uma nova dinâmica para economia, uma ruptura do processo econômico.
A estruturação da cadeia produtiva do eucalipto em Mato Grosso do Sul se dá exatamente numa modelagem onde a indústria de produção de celulose é que alavanca todo o processo. A produção de eucalipto no estado tem uma das maiores áreas de preservação, onde conseguimos preservar todas as nossas APPs.
A lógica da produção de eucalipto está muito ligada a capacidade que ela tem de recuperação das áreas de proteção ambiental e capacidade de mecanização, que aqui são extremamente favoráveis por se tratar de aéreas planas e de fácil acesso. Temos uma infraestrutura de produção de celulose, com três fabricas, em escala satisfatória, o que torna a celulose principal produto de exportação do Estado em 2020.
Qual a expectativa do governo estadual em relação aos novos investimentos, anunciados pela indústria de papel e celulose no estado?
Vamos fazer esse ano uma atualização do nosso plano de florestas buscando identificar novas oportunidade de negócios. Temos significativa capacidade de ampliação da base de produção de eucalipto, temos técnicas e território disponível para avançar nisso. Temos a possibilidade da atração de novas indústrias de celulose. Recentemente a Suzano adquiriu um projeto, mas ainda não há uma definição de um cronograma de implantação dessa estrutura. Na época da instalação da Suzano e Eldorado, o Governo do Estado fez um grande investimento no setor de fornecimento de gás, por entender que a estrutura de fornecimento de gás é fundamental para a questão da celulose.
Mato Grosso do Sul busca hoje empreendedores na celulose liquida, chamada solúvel e agregação de valores. Já temos a Internacional Paper, que produz o papel, mas queremos dar o adensamento da cadeia produtiva, trazendo fornecedores para essa cadeia já instalada e também atraindo empresas de outros segmentos, como o do papel, do papelão, como nós já temos em Três Lagoas, um investimento de 300 milhões. E no município de Água Clara, com MDF.
Não consigo ver que tenhamos outro local no Brasil que possamos apelidar, como fizemos aqui, como ‘Vale da Celulose’. Somos um grande player pelo ambiente de negócios que construímos aqui.
Existe algum programa para o desenvolvimento ou projeto para o segmento de florestas plantadas que envolva tecnologia ou especialização de mão-de-obra?
Esse é um trabalho que já fazemos nos últimos dez anos, preparando toda estrutura de mão-de-obra do Estado. Na área florestal, uma parceria com o Senar garantiu isso, pois nós não tínhamos essa cultura. Ao mesmo tempo, a organização das indústrias focou na formação dos técnicos na área de celulose. A expansão da atividade culminou na instalação do Instituto Senai de Inovação na área de biomassa, de base nacional.
Na sua visão, quanto ainda a tecnologia pode contribuir para a silvicultura em Mato Grosso do Sul?
Por anos a matriz econômica do nosso estado foi sustentada nos mercados de soja e de boi. No campo, estes dois segmentos se fortaleceram com métodos e tecnologias de precisão para impulsionar a produção de grãos ou de carne, e até mesmo de leite. A inovação tecnológica que impulsionou o setor agropecuário, deu força também à silvicultura em solos sul-mato-grossenses.
As tecnologias do campo avançam a cada dia e, paralelamente a isso, há a necessidade de aprimoramento da mão-de-obra, por isso o governo do estado atua em parcerias com o sistema S: SENAR, SENAI, SEST, para o oferecimento de cursos na área do florestamento desde 2016. É importante também capacitar as pessoas que ainda vão ingressar e preparar aquelas que migram e deixam o serviço em busca de outro trabalho. Em 2017 o SENAR de Mato Grosso do Sul qualificou mais de 500 trabalhadores nos cursos voltados para mecanização florestal.
A celulose é o principal produto de Mato Grosso do Sul?
O Estado de Mato Grosso do Sul vem se destacando na economia brasileira pela sua robustez e diversificação. Capacidade de investimentos industriais, expansão agrícola, tecnologia e geração de mão-de-obra fazem de Mato Grosso do Sul um ambiente extremamente favorável a produção de celulose. Em relação às vendas de celulose para o mercado internacional, o produto foi o primeiro colocado na balança comercial de MS. O estado fechou o primeiro trimestre de 2019 como o maior exportador brasileiro em volume de celulose de fibra curta, que é produzida pelas duas plantas instaladas em Três Lagoas, no leste do Estado; Suzano e Eldorado. A produção sul-mato-grossense é exportada para 28 países, sendo o maior comprador a China. Atualmente 92% da produção das três fábricas é destinado ao mercado externo.
Uma nova fábrica de celulose será instalada em Ribas do Rio Pardo, com capacidade para 2,2 milhões de toneladas. Esta será a quarta indústria do segmento no Estado.
Os números mostram que o foco necessário para o Estado está na agregação de valor para exportação. É a linha que queremos adotar. Processar mais as matérias-primas internas para que elas possam sair semi-elaboradas ou elaboradas, como é a celulose.
Quais os atrativos de Mato Grosso do Sul para o investidor do segmento de florestas plantadas?
Temos a nossa política ‘MS empreendedor’, de incentivo fiscal e está disponível para todos as empresas. Acreditamos que a industrialização da celulose continua sendo um caminho. Outro, é o Programa de Desenvolvimento Industrial do Estado ou Programa Estadual de Fomento à Industrialização, ao Trabalho, ao Emprego e à Renda.
Criado em outubro de 2017 pelo Governo do Estado, para pôr fim à guerra fiscal entre os estados, o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Econômico e Equilíbrio Fiscal do Estado é o maior programa de incentivos fiscais da história de Mato Grosso do Sul. Já recebeu a adesão de 471 empresas.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar coordenou o programa de incentivos fiscais de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), construído em conjunto pelo governo do Estado, a Federação da Indústria de Mato Grosso do Sul, Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul e Sebrae.
E como o Estado trata a logística de transporte, principalmente na Costa Leste?
O transporte de eucalipto é um gargalo. Estamos focados em resolver através do Fundersul, programa que destina recursos para estradas estaduais e vicinais. Fizemos um planejamento, junto com as empresas, para oferecer manutenção dessas vicinais e também construir pontes. Temos novas áreas sendo incorporadas ao processo produtivo que precisam de acesso. Dentro da nossa estrutura de Fundersul, visando atender a logística, nós temos todo um mapeamento dessas estradas vicinais.
Os investimentos em infraestrutura portuária foram fomentados pelo Programa de Estímulo à Exportação ou Importação, com incentivos fiscais e a reabertura do terminal de Porto Murtinho.
Um projeto ainda maior é a consolidação da rota bioceânica. Estudos de viabilidade econômica do Corredor Rodoviário Bioceânico apontam que a efetivação dessa rota alternativa, que fará a interligação do Centro-Oeste brasileiro com os portos chilenos de Iquique e Antofagasta, deverá transformar o estado de Mato Grosso do Sul em um importante centro de distribuição logística de produtos de exportação e importação para o Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, além do mercado asiático.
Em relação ao transporte ferroviário, nós temos a utilização da Ferronorte para exportação e temos um projeto de revitalização da Ferroeste. Hoje, ainda estamos concentrados no transporte rodoviário, mas num curto espaço de tempo queremos fazer uma antecipação da concessão da malha oeste para potencializar o uso da ferrovia.
Com a Ferrovia de Integração do Centro Oeste, Mato Grosso do Sul será entreposto do maior corredor de commodities agrícolas do país. O Estado articula a conexão dessas malhas com as ferrovias da Argentina, Bolívia, Chile e Peru, para viabilizar a TransAmericana. O Estado incluiu este corredor no Programa de Parcerias e Investimentos do Governo Federal, criando uma alternativa financeira via investidores internacionais. Foi assinado um acordo com a Bolívia, que será sócia da ferrovia, que irá do Peru ao porto de Santos. A Ferrovia InterAmericana será o principal tronco de um sistema intermodal, um corredor logístico integrado, conectando terminais, ferrovias e portos, entre eles o Porto Seco de Três Lagoas. Com ramais desde a fronteira com a Bolívia até São Paulo, os produtos dessa região se tornariam mais competitivos.