bosque brasilEmbrapa avança nas pesquisas para florestas plantadas no semiárido

Há quatro anos, a empresa avalia 42 espécies arbóreas no Município de Acaraú, no Noroeste do Estado

Resultados promissores para a exploração de florestas plantadas no semiárido têm sido alcançados por estudos promovidos pela Embrapa. Dois híbridos e sete espécies madeireiras apresentaram bom desenvolvimento no Ceará e serão testadas em plantios pré-comerciais.

Há quatro anos, a Empresa avalia 42 espécies arbóreas no Município de Acaraú, no Noroeste do Estado. O objetivo da pesquisa é buscar soluções para um problema do pólo moveleiro do Município de Marco: a grande distância entre as fábricas e os principais produtores de matéria-prima o que compromete a competitividade da indústria da região. O polo cearense é o oitavo maior do Brasil no setor de móveis.

Na condução do experimento, as condições climáticas e de relevo da região se constituíram no principal desafio para os pesquisadores. Ventos muito fortes, frequentes no Estado, são um problema para as florestas plantadas, pois o vento provoca o tombamento e quebra das árvores. Conforme a pesquisadora Diva Correia, líder do projeto, uma das conclusões do estudo é que não é possível estabelecer o plantio sem quebra-vento. “Tivemos casos de eucaliptos com a ponteira quebrada”, disse. Outra dificuldade são os solos arenosos e escassez de água. “Foram três anos de seca consecutivos”, lembra o pesquisador João Alencar.

O estudo, que contou com apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), avaliou espécies madeireiras não tradicionais para a atividade, exóticas e da Região Amazônica, além de clones de eucaliptos. Das nove espécies que apresentaram bom desenvolvimento, quatro fazem parte do grupo das não tradicionais, três são exóticas e duas são híbridos de eucaliptos. No grupo das amazônicas não foi observado bom desenvolvimento. As selecionadas serão avaliadas na segunda etapa do estudo, em plantios pré-comerciais.

O polo moveleiro espera em breve reduzir em até 30% os custos de produção, tornando-se autossuficiente em matéria-prima. Sem que a Embrapa tenha recomendado o plantio, “já tem gente se animando para investir”, comemora o presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário do Estado do Ceará, Júnior Osterno. Segundo ele, os empresários estão impressionados com a robustez de algumas árvores da área experimental. Os eucaliptos atingiram mais de 20 metros de altura e outras espécies apresentam em média de diâmetro à altura do peito (DAP) do tronco de mais de 15 centímetros. Diante disso os pesquisadores afirmam que são necessários mais estudos.

O empresário e presidente da Fabricantes Associados de Marco, Leonardo Aguiar, está animado, pois o projeto permitirá alinhar os investimentos para a região. Ele lembra que o cultivo das espécies leva cerca de 15 anos até o ponto de corte. Um investimento errado nesse prazo pode representar grande prejuízo. “A Embrapa está nos proporcionando a identificação das melhores espécies, porque não podemos plantar qualquer madeira, já que o cultivo é demorado”.

Vencida a primeira fase do projeto, que visava a identificar os materiais mais promissores para a região, a Embrapa deve plantar pelo menos um hectare de área para cada espécie selecionada. O plantio será dividido entre áreas localizadas nos municípios de Acaraú e de Pacajus, onde fica a estação experimental da Embrapa Agroindústria Tropical. Na segunda etapa, será determinado o espaçamento ideal. “Às vezes, o que é usado em outra região pode não ser o mais favorável para esse município”, diz Diva Correia.

O projeto inclui avaliações de ocorrências e manejo de controle de pragas e doenças. Estão previstas, ainda, análises da qualidade no Laboratório de Tecnologia da Madeira, na Embrapa Florestas, e também na indústria, para avaliar se o material atende aos requisitos necessários à produção de móveis.

Para a pesquisadora, o projeto deve beneficiar não só as indústrias do polo moveleiro, mas também outras atividades que demandam biomassa para a produção de energia. Além disso, a produção de florestas na região para alimentar as indústrias deve contribuir para reduzir a pressão sobre as florestas nativas. “Outra vantagem é que esse novo segmento exigirá mão de obra treinada, gerando mais postos de trabalho”, diz. Ela lembra, ainda, que o experimento detém um “tesouro” em informações que pode ser objeto de estudo para pesquisadores e estudantes nas áreas de recursos florestais, agronomia e biologia.

Um polo moveleiro sem floresta
As 28 indústrias instaladas em Marco consomem mil metros cúbicos de madeira por mês. A atividade emprega, na região, 2.480 pessoas. Depois da agricultura, é a principal geradora de postos de trabalho no município de pouco mais de 24 mil habitantes.

A atividade começou na década de 1980, quando um grupo de empreendedores foi incentivado a produzir móveis para atender à demanda de uma rede de lojas que atuava no Nordeste. Com o tempo, as pequenas fábricas se consolidaram, aprimoraram o processo produtivo e passaram a fornecer para outros clientes, cidades e até para o exterior.

Hoje, embora tenham constituído o oitavo maior polo produtor de móveis do Brasil, as indústrias padecem de um vício de origem: a distância da matéria-prima encarece a produção e faz com que as empresas percam competitividade. “Eles começaram a produção de forma diferente. Não era uma região produtora de madeira, várias fábricas se instalaram na região por causa de estímulo de um grupo empresarial”, explica Diva Correia.

Em busca do selo verde
Outra vantagem importante em se encontrar espécies arbóreas adaptadas à região é a possibilidade de obtenção de um selo de sustentabilidade. A certificação de uso de madeira de reflorestamento para os produtos do polo moveleiro é um dos desejos dos empresários do setor. O presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário do Estado do Ceará, Júnior Osterno, acredita que esse deve ser um diferencial de mercado que pode incrementar os negócios.

“Teremos qualidade com um viés ecológico, porque essas madeiras são praticamente as mesmas que vêm das regiões produtoras, apenas as estamos adaptando ao nosso ambiente. Portanto, não vamos ter problema”, disse. Segundo ele, as empresas do polo cearense já apresentam um padrão de qualidade capaz de competir com qualquer região produtora do Brasil.

Para Júnior Osterno, o setor tem ainda muito espaço para crescer. Ele diz que hoje 20% dos móveis consumidos no estado do Ceará são provenientes do polo moveleiro de Marco. “Há oito anos, a região abastecia somente 12% do mercado”, disse.

CIFLORESTAS - BRASIL - 9 noviembre 2014