cmpc brasilCMPC vê crescimento da produção no Rio Grande do Sul

Roberta Mello, de Santiago, Chile
Instalada há 10 anos no Estado, no município de Guaíba, CMPC, indústria chilena de celulose, projeta expansão, ainda que tímida, na produção gaúcha neste ano. Segundo o CEO da multinacional, Francisco Ruiz-Tagle, o panorama global não está favorável, no momento, principalmente para commodities. Mesmo assim, o crescimento e os potenciais investimentos da empresa nos próximos anos devem se concentrar no Brasil "e o mais natural é que ocorram no Rio Grande do Sul".

Por ora, a CMPC não projeta construir novas plantas. "Isso deve acontecer apenas em 2021 e a tendência é que os investimentos sejam muito mais tímidos do que a implantação de uma planta de celulose, por exemplo". A ideia, segundo Ruiz-Tagle, que assumiu o cargo no ano passado, é que o crescimento ocorra nas unidades em operação, através do uso de novas tecnologias e do estabelecimento de parcerias locais.

A estratégia de fazer planos mais contidos vem sendo adotada em todas unidades em operação. Contudo, no Brasil, está atrelada, também, a um imbróglio judicial que impede a compra de terras por empresas estrangeiras, o que limita os planos de expansão da companhia no Estado. A CMPC demonstra, desde 2016, o interesse em implementar mais uma unidade no Rio Grande do Sul e aguarda uma reversão da proibição por parte da Advocacia Geral da União (AGU).
A situação, diz Ruiz-Tagle, impede que a CMPC cresça ainda mais junto com os brasileiros e que o País receba um volume maior de investimentos estrangeiros. Contudo, Ruiz-Tagle é categórico ao afirmar que a companhia não desistiu do plano. "É um projeto factível e esperamos que a questão se resolva", definiu.
Enquanto isso, a organização busca outras maneiras de se manter em desenvolvimento. "Uma delas é a constituição de um Fundo de Investimentos Florestal. A outra pode ser através do estabelecimento de parceria direta com proprietários de terras a partir de um modelo de associações produtivas com produtores locais", indica.
A CMPC produz produtos de madeira maciça, celulose, papel, produtos de embalagens, produtos sanitários, de higiene e limpeza e lenços de papel em oito países da América Latina. Em 2018, somou um fluxo de caixa livre de US$ 702 milhões - crescimento bastante expressivo em relação aos US$ 447 milhões do ano de 2017. O aumento, conforme a companhia, está relacionado com a maior geração de Ebitda durante o ano, composto por impostos superiores, dividendos e um aumento do capital de trabalho. Da mesma forma, o caixa da empresa em 2018 fechou em US$ 968 milhões - 16% superior ao ano anterior.
No Brasil, a CMPC produz 1,8 milhão de toneladas de celulose por ano. A planta de Guaíba quadruplicou a sua produção desde 2015 com a expansão da fábrica. Do total produzido, 90% é exportado.
Reforçar a adoção de soluções da indústria 4.0 por meio de modelos de aprendizado de máquina em operações industriais, soluções preditivas de manutenção e otimização de produção e custo está no topo dos projetos futuros. Um dos fatores que já está impulsionando o aumento na demanda por produtos com matéria-prima oriunda de papel é a onda de substituição das sacolas e embalagens plásticas. No Chile, por exemplo, as sacolas plásticas já não são fornecidas nas lojas e supermercados. Mesmo assim, este ainda não é um foco da companhia, salienta o CEO.
Outro plano que vem sendo executado pela empresa em solo gaúcho é a expansão do trabalho social que, no Chile, é desenvolvido pela Fundación CMPC. No Brasil, o Instituto CMPC irá realizar trabalhos com foco na educação, geração de renda e qualidade de vida.
Produção industrial encolhe 1,6% no 1º semestre
A produção industrial brasileira encolheu 1,6% nos seis primeiros meses deste ano. Essa queda é explicada, principalmente, pelos efeitos negativos do acidente da Vale em Brumadinho, em janeiro, sobre a indústria extrativa. Esse segmento encolheu 13,7% no período, devido a uma menor extração de minério de ferro.
Segundo o IBGE, se o resultado negativo do segmento extrativo fosse eliminado, a indústria, como um todo, teria leve expansão de 0,2% no primeiro semestre, em vez de queda de 1,6%.
"O primeiro semestre de 2018, mesmo com o efeito da greve dos caminhoneiros, foi positivo para a indústria. Mas, depois disso, a produção vem desacelerando. Ela ficou estável no segundo semestre do ano passado e, agora, negativa nos primeiros seis meses de 2019", explicou André Macedo, gerente de Produção Industrial do IBGE.
Em relação a maio, a produção industrial encolheu 0,6% em junho. Na comparação com junho do ano passado, quando houve a greve dos caminhoneiros, a produção retraiu 5,9% e, em 12 meses, o setor acumula queda de 0,8%.
No semestre, as contribuições negativas para o resultado geral da indústria também vieram do encolhimento de 6,6% da produção de equipamentos eletrônicos, da queda de 10,4% de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos; e de outros equipamentos de transportes, segmento que caiu 11,2%.
Quando observados os grandes grupos da indústria, no primeiro semestre do ano, bens intermediários, que diz respeito à produção de matérias-primas, encolheu 2,7%, em razão da menor produção de minério de ferro. Mais um efeito tragédia em Brumadinho.
Segundo Macedo, também pesou negativamente nesse grupo uma menor produção de alimentos. Os outros três grupos tiveram resultados positivos. Bens de consumo semiduráveis, que reflete diretamente o consumo diário das famílias teve leve alta de 0,1%. Bens de capital, que reflete investimentos, cresceu 0,9%. E bens de consumo duráveis expandiu 1,8% nos primeiros seis meses do ano, puxada por um maior consumo interno de automóveis e eletrodomésticos da linha branca.
Nesta quinta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também divulgou dados sobre o desempenho do setor no primeiro semestre do ano. O faturamento do setor teve queda de 1%, as horas trabalhadas na produção ficaram estáveis e o emprego teve leve queda de 0,1%, em relação aos primeiros seis meses de 2018. A utilização da capacidade instalada caiu 0,7 ponto percentual na comparação com maio, atingindo 77,2% em junho.

JORNAL DO COMÉRCIO -BRASIL - 02 agosto 2019